
Categoria: Artigos
Data: 11/08/2024
INTRODUÇÃO
As nossas orações podem revelar muito sobre como nós pensamos sobre Deus, nós
mesmo e como é o nosso relacionamento com ele.
Esse texto está dentro do sermão do monte (cap 5 ao 7). Um momento em que o Senhor
Jesus está expondo aos seus discípulos e a todos os que o ouviam os problemas e erros
de interpretação da Lei e de como os Judeus naqueles dias estavam vivendo sua vida
religiosa de forma errada. (Religiosidade, e relacionamento com Deus).
Irmãos, nós também corremos esse risco, por isso Deus em sua sabedoria
registrou esse texto e preservou para nós pudéssemos aprender também.
Um dos temas de todo esse discurso está no capítulo 6: As obras de justiça, ou em outras
palavras, a vida de crente dos judeus nos dias de Jesus.
-Dar esmola – Versículo 2
-Orar - versículo 5
- Jejuar – Versículo 16
Ele não diz que estas coisas eram ruins ou deveriam deixar de ser feitas, mas estavam
sendo feitas de forma errada, e com as motivações erradas.
Vamos meditar então nos versículos 5-13, que fala de uma dessas práticas espirituais: a
oração.
No texto que lemos, Jesus expõe dois tipos de oração. Um errado e que não agrada a
Deus, e outro correto e agrada a Deus.
Este texto está dividido em duas partes. Na primeira, nos versos 5 a 8, ele diz como a
oração não deveria ser (o que ela revela) e, em seguida, nos versos 9 a 13, ele Jesus
nos ensina qual é a forma correta de fazê-la.
I. Como não orar
a) Hipócritas (Vs 5-6). - A palavra Hipócritas tem origem nos antigos teatros gregos.
Os atores usavam máscaras para esconderem o rosto e interpretarem seus personagens.
Os Judeus, que muitas vezes fingem ser espirituais, utilizavam a oração para serem
elogiados pelos outros, para se sentirem orgulhosos do quanto eram “bons e santos”.
Jesus diz que eles não passavam de atores. Eles faziam essas coisas em público para
serem vistos como espirituais, mas na verdade isso não passava de um teatro da parte
deles.
Então é proibido orar em público ?
Aqui, ele não está dizendo que devemos nos esconder para orar, ou que não possamos
orar em público, ou em grupo. E sim que, independentemente do lugar em que formos
orar, estejamos com o coração ligado em Deus e não na atenção das pessoas. Algo que
fica claro nos evangelhos, é que Jesus expõe a superficialidade da religiosidade daqueles
que deveriam ser o povo de Deus. E que essa prática religiosa deles estava longe de verdadeiro relacionamento com Deus.
Será que em algum momento não temos agido de forma semelhante?
Será que em alguns momentos não temos dado lugar ao orgulho?
Às vezes fazemos propaganda da nossa santidade nas redes sociais, ou contamos com orgulho quantas vezes já lemos a bíblia, ou quanto tempo de oração por dia? Ou aceitamos um ofício na igreja, ou uma função em em algum departamento da igreja apenas apenas com o objetivo de se sentir uma pessoa importante?
A palavra de Deus nos ensina a não sermos como os hipócritas, fazermos as coisas dele para serem vistas e elogiadas pelos outros.
Também não devemos ser como os gentios!
b) Os gentios (Vs 7)
A forma dos Gentios (qualquer um que não fosse judeu) se relacionarem com seus
deuses era bem diferente. Era uma espécie de negócio, barganha, troca, vencer pelo cansaço. As muitas repetições tinham a intenção de impressionar os deuses e assim ter seu pedido atendido.
Lembra dos profetas de Baal e Elias no monte Carmelo? Começaram a clamar a seu deus para lançar fogo do céu, e como ele não respondeu, o profeta Elias começou a zombar deles, dizendo “ gritem mais alto, ele pode estar dormindo”. Os profetas do falso
deus acreditaram nisso, e passaram a gritar mais alto, depois começaram a se cortar.
Fizeram de tudo para forçar Baal a atender seu pedido.
Temos um exemplo mais próximo em nossa cultura. As moças católicas colocavam Santo
Antônio de cabeça para baixo dentro de um copo com água ou cachaça para forçá-lo a arrumar um casamento para elas. O santo fica literalmente de castigo.
Quantas vezes nós achamos que se insistirmos em um pedido Deus irá realizá-lo, mesmo se não a vontade dele. Quantas igrejas por aí ensinam exigir de Deus as coisas. Se você fizer um jejum de tantos dias, Deus dará o que você quer. Inclusive, uma música antiga cantava exatamente assim (restitui, eu quero de volta o que é meu).
Ou talvez não iremos tão longe assim, mas em alguns casos temos dificuldade em aceitarmos a vontade de Deus porque achamos que somos bons e justos o suficiente para sermos livres de qualquer sofrimento. Como se pode ver no verso 8, Deus não é como os falsos deuses, ele é real e é nosso pai. Ele sabe o que nós precisamos mesmo antes de pedirmos. Por isso, o crente não
tenta convencer Deus a lhe dar aquilo que ele quer. Sua oração não é uma negociação. Se a nossa oração tiver alguma dessas duas características, tanto da oração dos hipócritas, como dos Gentios, precisamos pedir a Deus que ele molde nosso coração à sua vontade.
É interessante observar que esse tipo de oração, revela um coração orgulhoso e incrédulo.
Nessa primeira parte, Jesus nos mostrou como a nossa oração não deve ser.
Não é como aqueles judeus hipócritas orgulhosos que queriam ser louvados por sua “vida de oração e santidade" e nem como os gentios que tentavam forçar seus deuses a atenderem seus pedidos, pois não podiam confiar em seus deuses.
Jesus vai mostrar que o relacionamento de Deus com o seu povo é diferente. Na segunda parte do texto nos versos 9-13, o Senhor Jesus nos dá um modelo de oração.
A oração que Jesus ensinou é como uma vacina para um coração orgulhoso. A partir dela podemos observar as nossas orações, e se elas tiverem princípios errados, ao mudarmos e orarmos com os princípios que o Senhor ensinou, nosso coração vai sendo moldado e
transformado de um coração orgulhoso e exigente em um coração humilde e dependente. Por quê? Como? II. Como orar
Podemos observar três pontos na oração que Jesus nos ensinou:
1) É centrada no Pai (vs 9)
Se no verso 5 Jesus diz que as orações não devem ser feitas com o objetivo de serem vistas e elogiadas pelos outros, aqui ele está mostrando que o único alvo da nossa oração deve ser o Pai.
O nosso coração e mente devem estar ligados a Deus. Quantas vezes em nossas orações, principalmente orações públicas, ficamos preocupados em usar palavras bonitas para mostrar a nossa habilidade na oração, ou muitas vezes temos vergonha de orar, por
que acharmos nossa oração muito simples? A quem estamos orando, a Deus ou às pessoas que estão ao nosso redor?
Além disso, nossa oração não chega diante de Deus com nossas palavras, pois por mais belas que sejam, jamais serão suficientes. Caso você se sinta inseguro para orar, Lembre-se do que dizem as escrituras:Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira,
com gemidos inexprimíveis. Romanos 8:26
Pensando em humildade, é interessante que Jesus inicia a oração chamando Deus de
pai.
Quando um filho chega diante de seu pai, ele chega em humildade, lembrando que é dependente do pai para o sustento, segurança e amor. O tom da oração é de alguém que suplica e não de alguém que determina.
Essa oração nos coloca no nosso lugar. Somos filhos, criados por Deus, nos rebelamos e depois fomos adotados por meio da obra de Cristo. Nós não temos o direito de exigirmos nada de Deus e nem de nos sentirmos superiores aos outros. Se somos recebidos em
sua presença, é porque ele nos resgatou.
É diferente dos exemplos dados por Jesus, e da moça que põe o Santo Antônio de cabeça para baixo até ele lhe arrumar um casamento.
E nós mesmo, quantas vezes temos dificuldade de aceitar a vontade de Deus quando a
resposta da oração não é o que esperávamos?
2) Suas preocupações principais são eternas e não temporais (vs 10-13)
Um bom termômetro para medir se nossas orações são bíblicas, é o que temos pedido.
Jesus ensina que as preocupações do crente na oração são sobre coisas eternas e não temporais, passageiras.
Observem quais são os assuntos dos pedidos:
● Viver o reino de Deus (vs 10)
O maior desejo do crente deve ser ver o reino de Deus crescendo… é ver os eleitos serem chamados. São pecadores que precisam de arrependimento. Nós um dia fomos famintos como eles, e pela misericórdia de Deus fomos chamados e transformados em
novas criaturas. E agora, o nosso coração deve arder em levar essa mensagem àqueles que estão presos à escravidão do pecado. Mas além disso, sabemos que quem convence o homem do pecado e o traz ao arrependimento é Deus, por isso, em nossas orações deveríamos estar preocupados e clamando a Deus para que ele faça essa obra.
● Viver a vontade de Deus (vs 10)
A oração que agrada a Deus revela um coração que se submete à vontade do seu senhor, sabendo que tudo o que ele ordena é bom. Sabendo que todas as coisas cooperam para o seu bem, inclusive momentos de perseguição, tristeza e tantas outras aflições. Afinal, foi essa a oração que o nosso próprio senhor Jesus fez quando estava em agonia no jardim do Getsêmani. Mesmo sabendo de toda a dor e angústia que sofreria, se aceitou e descansou na vontade do Pai.
● Ter os pecados perdoados (vs 12)
A oração que agrada a Deus revela um coração consciente de suas lutas espirituais. E do quanto ele está distante de ser santo como Deus é santo. Mas não lhe causa desespero
pois ela sabe que não há mais condenação para ele. Ele vai se lembrar do que diz nas Escrituras: 1Jo 2.1.
Meus filhinhos, escrevo-lhes estas coisas para que vocês não pequem. Mas, se alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo. Em suas orações ele rasgará seu coração diante de Deus, e confiando na obra de Cristo confessam seus pecados sabendo que eles já foram perdoados. Outra coisa muito interessante, é como essa compreensão da condição de pecador perdoado, muda os relacionamentos da pessoa. Se compreendermos o quanto éramos pecadores, seremos mais pacientes uns com os
outros. Eu não perdoou para que Deus me perdoe. Ele já me perdoou, por isso eu devo perdoar
tambem.
Você já percebeu como geralmente nós esperamos misericórdia das pessoas quando cometemos alguns erros, mas somos ardorosos defensores da punição justa quando
alguém comete um erro contra nós ?
Pense no quanto isso atrapalha o relacionamento entre o casal, os pais e os filhos,
irmãos, amigos e colegas de trabalho.
● Força para vencer as tentações (vs 13)
Esse mesmo pecador, sabe que não é mais escravo do pecado e não deve mais viver entregue a ele. Em suas orações ele busca no Senhor a força para resistir às tentações e dizer não aos desejos da velha natureza. Ele pede porque sabe que não está sozinho
nessa luta e que recebe do Espírito Santo a força para essa batalha contra a carne. De todas as frases, apenas uma fala de coisas terrenas, materiais.
● O pão nosso de cada dia (vs 11).
Pedir por motivos de saúde, emprego, relacionamento e prosperidade financeira não é pecado. Muitas vezes vemos os salmistas rasgando o coração diante de Deus em Oração, pedindo socorro e livramento dos inimigos e vários outros motivos. No entanto, essas não devem ser as prioridades e nem os principais motivos para orarmos. Inclusive,alguns versos à frente, o Senhor Jesus vai falar justamente sobre isso.
No verso 19 ele diz que não devemos colocar o nosso coração na busca pelo acúmulo de riquezas materiais.
Inclusive, baseado no verso 21 podemos dizer que o que pedirmos em oração, vai revelaronde está o nosso tesouro.
Os versos 25 e 32 mostram que a nossa preocupação não deve estar nas coisasmateriais e sim na preocupação com nossa saúde espiritual, como vemos no exemplo daoração que o senhor Jesus nos ensinou.
3) Não é individualista
Quando Jesus nos ensina a orar, ele utiliza várias palavras com sentido plural, para
indicar que a oração não é apenas por quem ora, mas por todo o povo de Deus. Assim, aquele homem orgulhoso, que queria chamar atenção para a sua espiritualidade, sua Intimidade com Deus, cheio de orgulho, que provavelmente só orava por ele próprio, é
ensinado a dividir o tempo de sua oração em súplica pela vida de outras pessoas e a se preocupar com outras pessoas. Devemos colocar as nossas necessidades diante de Deus, no entanto, orar apenas por nós mesmos revela um problema sério: achar que
somos o centro do mundo. E isso é orgulho.
Conclusão
É muito importante termos uma rotina de oração, (é impossível viver uma vida que agrade a Deus, sem ler a bíblia e orar). mas ela pode se tornar apenas um ritual vazio, uma espiritualidade morta ou um culto ao nosso próprio ego. Precisamos aprender a orar
biblicamente.
O alvo da nossa oração é Deus, pois ele é o único Deus verdadeiro; ele é nosso pai e não podemos e nem precisamos tentar convencê-lo ou forçá-lo a nos abençoar; os principais
objetivos da oração são as coisas eternas, como a santificação, força para vencer o pecado, adoração a Deus, confissão de pecados e intercessão pelos outros.Assim o nosso coração será moldado e transformado de um coração orgulhoso e exigente em um coração humilde e dependente.